quinta-feira, 6 de outubro de 2016

And now for something completely different

(porque há que celebrar o facto 

de poder começar a comprar botas da Decathlon à minha coisa pequena)



Na última vez que cá esteve, o tio Rui comentou muito admirado: “Ó rapaz, mas tu sabes tocar violino e não sabes atar os sapatos?!” Pois… não. Nenhum dos meus filhos foi lesto nesta matéria. O Diogo também já tocava trompete há três anos, quando finalmente aprendeu a atar os sapatos. Tinha 10 anos. Talvez a culpa seja minha. Desde que a pediatra dos rapazes me perguntou se conhecia alguém com 18 anos desdentado, que decidi aplicar essa máxima a tudo o que dissesse respeito aos meus filhos. De facto, por que diabo haveria eu de estar preocupada por um bebé de 9 meses ainda não ter dentes? Algum dia haveriam de nascer. Pela mesma lógica de ideias, deixei de me preocupar com tudo aquilo que a sociedade usa para crucificar em praça pública as mães… sempre as mães. “Ainda não consegue mastigar uma bolacha Maria com 8 meses?! O meu sobrinho comia entremeadas aos 7!” “Ainda não anda com 16 meses?! O meu começou a fazer corrida de obstáculos aos 12!”  “Não consegue desenhar uma figura humana com 3 anos?! O filho da minha vizinha fazia reproduções do Picasso aos 2!”  “Não saber apertar os atacadores com 10 anos?! O meu primo faz tricot desde os 6!” E, assim, sucessivamente…

No caso dos atacadores, há apenas um problema. Um problema de monta, é certo. A partir de um certo número, os sapatos têm todos atacadores. Quer dizer, até se encontra calçado 35 com velcro, mas não na Decathlon. Ou em marcas mais económicas. A verdade é que dói na alma gastar uma fortuna em sapatos que não fazem uma estação inteira nos pés do Vasco. Calçado é a única coisa que eu não compro em segunda mão. Até mesmo porque petite chose tem uns pés de princesa e é muito sensível. Assim sendo, para a rentrée comprei-lhe uns sapatos de pele com velcro que me custaram quase 50 euros e uns ténis da Decathlon para os dias de Educação Física. Lamento, mas nesses dias tem mesmo de pedir a alguém que lhe ate os ténis. No outro dia fui buscá-lo à escola e ouvi um menino pequenino dizer-lhe que tinha os ténis desapertados. O Vasco não deu parte fraca. Com um ar superior, respondeu que estava na moda. Acho que o menino não ficou muito convencido… No carro, lá me explicou que este ano a coisa estava complicada. É dos mais crescidos na escola, já não pode andar constantemente a pedir que lhe atem os sapatos. Disse-lhe que andar com os atacadores desapertados também não era solução. Que em breve vinha aí a chuva e a neve… “Talvez esteja mesmo na altura de aprenderes a atar os sapatos!”, lancei-lhe. Ouvi um longo suspiro.

Ontem, o Vasco chegou ao pé de mim com um sorriso de orgulho. E uns laços mal-amanhados nos ténis. É que hoje é dia de Educação Física. Nada como uma motivação extra para se alcançar grandes feitos. A um mês de fazer 10 anos. Toca violino desde os 2 anos e meio.

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