segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Companheirismo

(porque uma história triste pode narrar uma vida feliz)




O tio-avô do meu amor é pintor, do movimento surrealista belga. Apesar da vetusta idade, mantém-se muito jovem de cabeça. E continua a pintar. Vive sozinho numa casa-museu, rodeado de obras de arte. Há pouco morreu-lhe a mulher, companheira de uma vida. Quando abriu a época do mexilhão, decidiu manter a tradição. Um gesto bonito, para honrar a memória da esposa. Aperaltou-se e apanhou o comboio até Ostende, para ir comer os primeiros mexilhões frescos. Após três horas de viagem, chegou ao destino. Mas não conseguiu sair da estação. Nunca chegou a ver o mar. Como poderia apreciar os mexilhões sem ela? Deu meia-volta e entrou novamente no comboio. Regressou a casa, no seu fato de Domingo. Foi o dia em que as saudades mais pesaram.

Sem comentários:

Enviar um comentário