sábado, 11 de janeiro de 2014

O tempo

(uma prenda de Natal atrasada)


No último ano e meio, os meus filhos têm sido submersos por uma avalanche de prendas caríssimas, sem que eu tenha uma palavra a dizer. Desconfio que devem ser as crianças mais tecnologicamente avançadas aqui do burgo. Ele é tablettes, iphones, computadores portáteis, Playsations e Nintendos, smartphones, máquinas fotográficas com milhões de megapixéis… Infelizmente, há pessoas que não sabem amar de outra maneira.

Como é evidente, esta não é a educação que eu lhes quero dar. Está nos antípodas do estilo de vida que levamos. Vai contra tudo o que acredito. Mas a verdade é que eu sou apenas parte da equação. Metade, para ser mais exacta. Sei que tenho a minha família na retaguarda, mas o seu peso é cada vez menor à medida que as relações se deterioram e o acesso aos meus filhos restrito.

Apesar de tudo, vou tentando lutar contra este materialismo que abomino. Contraponho a frieza dos ecrãs à beleza da natureza que nos rodeia, o mundo virtual aos risos dos amigos, a alienação dos videojogos à evasão que a leitura de um bom livro nos proporciona. A simplicidade da vida real à falsidade da vida fictícia, idealizada, sonhada. Tento fazer-lhes ver que o dinheiro tem a importância que nós lhe atribuímos. E apenas essa. Que amar não é dar, é dar-se. E isso é muito mais importante do que os bens materiais.

O meu amor, lá longe, acabou de dar o seu contributo para esta batalha. Mais um, a juntar a tantos outros. E por isso ser-lhe-ei eternamente grata. Como prenda de Natal, ofereceu ao Diogo e ao Vasco bilhetes de avião para irem a Portugal nas férias do Carnaval. Com o único objectivo de estarem com a minha família. Porque, como ele diz, há outro tipo de prenda igualmente importante: o tempo. O tempo que passamos com as pessoas que amamos. O tempo em que nos damos aos outros. O tempo que, por oposição à cascata de prendas tecnológicas, ganha outra dimensão. Muito mais humana. E isto, sim, é o essencial.



[ Merci, du fond du coeur. Ta Renarde. ]

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