quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

“Ontem à noite estavas mesmo cansada”

(e estava mesmo)


Chega uma pessoa à casa e, mal entra, cheira a limpo. Casa varrida. Chão lavado. Pilha de loiça a secar no escorredor. Recebemos uma ordem seca para descalçarmos as botas à porta. Olho para o meu filho crescido e faço uma pergunta muda. Ele encolhe os ombros e diz simplesmente: “Ontem à noite estavas mesmo cansada”.

Todos os dias descubro novas nuances neste estranho que agora vive cá em casa. Percebo que já tem maturidade para perceber que os adultos, por vezes, sentem um cansaço na alma. E tenta ajudar. De forma muito prática, claro, não deixa de ser um gajo.

É certo que, às vezes, ainda tenho de lhe ralhar. De dizer as mesmas coisas vezes sem conta, numa ladainha que parece não ter fim. Ainda me zango a sério. E dou uns berros. Ainda o castigo. Mas é cada vez mais raro. E as nossas discussões também são diferentes.

Lembro que, apesar de ser mais alto, eu é que sou a mãe. Independentemente do crescente poder de decisão, quem manda aqui sou eu. Embora já saiba muita coisa, ainda não sabe tudo. A voz mais grossa não lhe dá o direito de levantar o tom de voz. Podemos brincar, mas o respeito é a fronteira. Agradeço a ajuda que dá com o irmão, mas cabe-me a mim definir a educação que lhe dou. Podemos ser amigos e até companheiros de aventuras. Sem esquecer que, em primeiro lugar, somos mãe e filho. Eu, a mãe. Ele, o filho. O meu filho grande, que eu amo de um amor espantado.



3 comentários:

  1. :) a vida é mesmo assim - chama-se aprender a ser, e tem curvas, e solavancos, e dá dores-de-mãe...

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  2. É a lei da compensação, Gralha! O outro anda a dar comigo em doida... :)

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