sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sobre o amor

(dividido, partilhado, repartido, disperso…)



Nesta casa, há três pessoas apaixonadas (e um cão). O problema é que o objecto do nosso amor é só um. E vive a hora e meia daqui… de avião. São 1300 km de distância, mais coisa, menos coisa. Mas, agora, o nosso amor está cá. E nós estamos felizes... a lutar incessantemente por atenção.

Em apenas três dias, o Diogo já conseguiu mostrar o boletim da escola. E os mil e quinhentos testes que fez, um a um. Explicando, muito bem explicado, que aquele 17/20 podia perfeitamente ter sido um 18 se… se… Aprendeu a fazer a barba, quer dizer, o bigode (comigo a fazer uma triste figura aos gritinhos, cheia de medo que ele se cortasse todo). Fez muitas pesquisas na Net e aprendeu uma série de coisas novas sobre filmes, guerras, estrelas. Ajudou a fazer frango com curry e legumes chineses (ultra) picantes. E falou, falou, falou…

O Vasco teve direito a um passeio pelos bosques, porque mais ninguém teria coragem de se aventurar com a malfadada cadeira de rodas por aqueles caminhos lamacentos. Três dias depois ainda anda a largar caruma pela casa. Jogou “Estratégia” (e perdeu, que o meu amor é doce, mas não gosta de perder nem a feijões). Mostrou as recém-adquiridas habilidades na cadeira de rodas, ao pé coxinho, de muletas. Foi à sua loja de brinquedos favorita, no Luxemburgo, ver os brinquedos que gostaria de receber nos anos. E teve colo, muito colo.
 
Eu... eu faço um esforço tremendo para me lembrar que sou a pessoa adulta, que sou a mãe, que devo passar depois de toda a gente. Mas a verdade é que luto tanto como eles por uns instantes só meus. Quero mimo, quero beijos, quero colo. Quero todas as palavras doces que não ouço durante semanas a fio. Quero matar a distância  e as saudades com relatos minuciosos. Quero conversas de gente grande. Quero passear de mão dada. E mais mimo e mais beijos. Durante a noite, acordo muitas vezes para me certificar que ele está mesmo ali, que não estou a sonhar. E o meu amor, que tem uma paciência infinita, abre os braços para eu me aninhar e voltar a adormecer.

Durante uns dias, além da atenção individual e do amor que cada um de nós recebe, temos a sensação de terem chegado reforços. Eu sinto que posso finalmente descansar, o corpo e a alma. A casa é varrida, a roupa estendida, as compras feitas, as refeições preparadas, a mesa posta, a loiça lavada, o cão passeado, os trabalhos de casa feitos. E, no meio de tudo isto, há passeios, aventuras, experiências, histórias. Nós andamos mais felizes, num rodopio de actividades em que cada um tem o seu lugar.

Ninguém diria pelo seu sorriso triste quando parte, mas o meu amor, que se divide em três (mais o cão), deve acabar as férias absolutamente esgotado.

 

2 comentários:

  1. Cheguei aqui através da Melissa, e como comentei lá no blogue, há muito que não tinha tanto prazer a ler um blogue. Uma delícia :)

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  2. Obrigada pelo teu comentário tão doce, Mariah. Amiga da Melissa, minha amiga é... de certeza! :)

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