terça-feira, 12 de novembro de 2013

Armistício

(onde se mostra que a História em Malempré é revivida todos os anos)

 
Ontem foi feriado do 11 de Novembro, dia do Armistício. Uma semana antes, os miúdos da escola de Malempré vão a casa das pessoas mais idosas da aldeia convidá-las para uma pequena celebração. Recebem sempre um doce e uma festinha emocionada na cabeça quando se vão embora. E, à hora marcada, lá estão os velhotes todos aperaltados a acompanhar as crianças.

Normalmente, a cerimónia faz-se em frente à igreja, onde há uma placa comemorativa do final da primeira e da segunda Guerra Mundial, a assinalar as datas em que a aldeia foi libertada. Este ano, por causa das obras, decidiram fazer a celebração no local onde foram fuzilados dois irmãos por soldados alemães. Na sexta-feira, os miúdos mais pequeninos depositaram flores e os mais crescidos leram uma composição que escreveram sobre a guerra. Em seguida, a professora leu um breve texto, onde explicou que a única maneira de lutar contra o esquecimento é lembrando.

E, na região das Ardenas onde vivemos, o que não faltam são lembranças… museus, placas comemorativas, tanques, canhões, grandes metralhadoras esquecidas nos seus suportes. Um pouco por todo o lado, há um arsenal antigo de guerra cristalizado, como se fosse o palácio da Bela Adormecida, que acabou por ser aglutinado na paisagem. Na fachada da nossa casa, há uma placa onde se pode ler: “Ici a été arrêté et déporté Voz Jules”, lembrando-nos diariamente que esta aldeia sofreu muito com as duas grandes guerras. Dada a sua posição estrategicamente protegida no vale, a população teve um papel importante na Resistência. E pagou por isso.

Talvez seja por esse motivo que a singela homenagem que as crianças da aldeia fazem, todos os anos, juntamente com os velhotes, seja um momento especialmente emotivo. No final, as vozes tremidas dos antigos e dos novos juntam-se para cantar o hino. A primeira vez que ouvi o meu filho Vasco cantar a “Brabançonne”, admito que senti uma espécie de comichão na alma. Mas, ao ver aqueles velhotes limparem as lágrimas furtivas e os miúdos tão solenes, percebi que provavelmente terá mais sentido associar o hino de um país a uma memória universal do que a um mero jogo de futebol...
  




 

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